O que eu ando medricas... choro por tudo e por nada. Não, não... eu ando a chorar por tudo, isso sim.
É a situação com a minha irmã que me tira o sono e agora tenho a transferência da Raquel de escola.
Enquanto trabalhava em Setúbal e tendo quase toda a familia lá a viver foi óptimo ter os miudos lá, mas agora sinto que tenho de os trazer para perto de casa.
A minha mãe não pode continuar a apoiar-me como antes, um pouco pela idade e alguma (muita) falta de tempo (e vontade). Tem finalmente vida própria, passeia e faz amigos com muita facilidade nas mil caminhadas, fins de semanas e coisas tais. A minha mãe, que viveu uma vida quase acorrentada ao lar está agora a viver livre. Já foi ao deserto, por duas vezes, Madeira, Açores, Itália e este ano irá a Paris (que sempre foi o seu sonho).
E sinto cada vez mais o cansaço a instalar-se... fiz agora 39 anos e andar de cá para lá e novamente lá é realmente cansativo, além da gasolina que se gasta e com valor sempre a aumentar.
Amanhã, vou ter uma reunião, na escola que pretendo que a Raquel frequente para o próximo ano mas tenho algum medo que me vão dizer para transferir já a miúda. Faltam 2 meses e meio de escola e seria bastante difícil esta alteração nesta altura. E mesmo que a Raquel mude agora, o Pipo está a frequentar o pré-escolar na escola de Setúbal (a mesma da Raquel) e o Joãozinho está num infantário da Segurança Social/Ministério de Educação, também em Setúbal.
Estou com medo da mudança. Todas as mães se preocupam com o efeito da mudança nos nossos filhos, mas com a Raquel com Trissomia 21 surgem outras preocupações: será bem tratada? Vão interessar-se pelo desenvolvimento/aprendizagem dela?
Hoje, quando me telefonaram a marcar a reunião, fiquei muito contente. Afinal de contas, isto só se vai proporcionar porque uma das minhas colegas de ginásio tem uma ligação familiar com um funcionário da referida escola... neste país é assim que as coisas acontecem. E eu sei bem que não devia ser assim.
Mas vejam lá... a minha Raquel, com deficiência numa escola de campo, onde só há 2 salas, em que metade está virado para um lado com uma professora e a outra metade de costas, com outra professora??? Como é que isso seria bom??? Se não é bom para crianças com desenvolvimento intelectual "normal"...
Estas coisas estão a deixar-me fragilizada... a pontos de quase chorar na aula de step quando uma das minhas colegas começa a dizer que não tem nada contra os homossexuais mas não acha bem que adoptem crianças... e porquê??? ela diz que é por causa de "equilíbrio". Que a presença de um pai e de uma mãe são essenciais...
Claro que me passei!!!!!!!
Saiu-me logo: com tantas mães solteiras, o modelo familiar de que falas começa a ser uma raridade. E olhem que eu percebo destas coisas, pá! Na minha carreira como socióloga já presenciei, conheci situações que tiram o sono a qualquer um de nós. Além de que eu já trabalhei na Comissão de Protecção de Menores e vi coisas...
Aliás, uma das razões que abandonei o meu trabalho foi precisamente a minha incapacidade, depois de ser mãe, de ser fria e objectiva em determinadas situações.
Sempre me vi como uma pessoa dura, forte e descobri que afinal existe uma alma demasiado frágil dentro de mim...
Esta semana tem sido terrível paa a minha paz de espirito e tão notória que todos me perguntam o que se passa comigo. Eu sou aquela pessoa que chega a um sitio e é um vendaval, cheia de energia, sorrisos e alegria... agora ando silenciosa.
Por isso, peço desculpa, mas ainda não consegui fazer a tal sobremesa que vos falei nem escrevi aqui a minha receita de bolachas de alfarroba.
Apesar da tristeza que carrego, estas angústias, e tal, não me apetece comer, comer, comer... o que é tipicamente a minha resposta aos problemas. Nunca me vi tão magra... Peso 59.2 kg.