Ser mãe é ver nascer um arco iris mil vezes num só dia, depois de mil tempestades...

Depois de almoçar, ás 3h da tarde, fui buscar as crianças á escola e fui brindada com um trabalho do Pipo, que está na pré, onde fez os números até "11" e escreveu o seu nome "FILIPE". Fiquei muito orgulhosa. O Pipo é um menino que está sempre a sonhar de olhos abertos, sempre na lua! mas este trabalho foi feito com muita dedicação e empenho (as minhas 2 palavras motivadoras).

A minha menina, doce, correu para mim e estava muito feliz por me ver, o que pode parecer muito pouco mas é óptimo para mim. Não espero que ela, com Trissomia 21, se transforme num génio, que aprenda a ler antes dos 9 anos, que faça somas e saiba conjugar os verbos na perfeição. O mais importante é que seja feliz; que tenha comportamentos socialmente aceitáveis; que se insira facilmente num grupo, aprenda regras de conduta e que seja agradavel e educada.

Levei-os á ginástica e depois para casa. Antes do Jantar a Raquel esteve a fazer os trabalhos de casa. Os trabalhos que eu batalhei muito para que lhe fossem atribuidos, mesmo que diferentes dos colegas. Ela escreve o nome passando o lápis por cima de tracinhos, soletra algumas palavas, já reconhece os números até 7, enganando-se muito mas com muita vontade de aprender.

E eu acho que isso é o mai simportante, ao fim ao cabo. O que se pretende é que eles sejam o melhor que possam ser e não os melhores alunos, os melhores atletas, etc, etc...

E isto é uma coisa que o nascimento da minha filha me ensinou. Que temos de fazer o nosso melhor, independentemente se outra pessoa faz melhor que nós.

Pessoalmente, sempre tive dificuldade em aceitar um segundo lugar... fui sempre a primeira da turma... E mesmo a educação fisica sempre que era uma competição eu dei sempre o meu melhor (era a mais pequenina... e mais gorduchinha também!!!). Recordo que no ciclo, no 2.º ano, por 2 vezes a nossa professora de ginástica fez uma prova de corrida de 30 minutos e eu fui a única rapariga que terminou. Só 6 da turma fizeram até ao fim a prova de "endurance" de 30 minutos: eu e 5 rapazes. Na 2.ª vez era 30 minutos estabelecidos de prova e depois a corrida de "endurance" continuava até só ficar 1 na pista. Desisti aos 33 minutos, 1 volta depois do primeiro rapaz desistir. Eu estava rota... mas não podia ser a primeira a desistir!

Depois de jantar, pijaminhas vestidos e dentinhos lavados li-lhes uma história sobre higiene, que a Raquel trouxe da biblioteca da escola. É uma história muito gira: todos vão a uma festa mas têm de, como diz o nome do livro: "lavar, escovar, esfregar" e mostra imagens das crianças a tomarem banho, escovar dentes, pentear, a mãe com a tesoura para cortar as unhas.... E ao mesmo tempo mostra como alguns animais fazem o mesmo: como o pelicano limpa as penas com o bico, como os "pica-boi" (passaro) limpa a cera das orelhas das zebras... e muito mais. É um livro muito giro. Claro que tive de ler 2 vezes mas foi muito produtivo! Eles olharam os desenhos, interpretaram e relacionaram com o que fazem em casa. Muito, muito bom!

A minha vida é assim muito caseira... pode parecer monótona, mas está carregada de emoção. O melhor que fiz na vida foi ter filhos, desistir ou talvez possa dizer "adiar" a minha vida profissional e dar uma infância muito rica aos meus filhos, em que a "maluca" da mãe pega neles a meio da tarde para irem ver a maré subir, na praia, mesmo que seja inverno! Que faça gomas usando gelatina e depois todos cortem as gomas com formas de plasticina... que a comida seja colocada num prato a fazer a cara de um palhaço... ou então que as torradas na sexta feira de páscoa sejam na figura de um coelho, com olhos feitos com smarties...

E os momentos em familia são o que mais me alimenta... coisas como estas:

Cá em casa temos uma piada só nossa... o Pipo, já nem melembro a que propósito, disse que algo não era para mim porque eu era "uma adulta" e fingi-me triste e respondi-lhe mais ou menos assim: Pipinho, acho que é muito feio chamares-me nomes" e toda a gente se riu. Até a minha mãe deu uma gargalhada.

E ficou...

De manhã...no carro, a Raquel para "peganhar" com o Joãozinho diz sempe que ele é mau. É a coisa que o faz mais infeliz, chega até a chorar. E eu um dia disse que se alguém era mau no carro era eu, porque eu é que sou um "monstro do espaço", e só eu é que sou mau!

E a coisa foi crescendo de tal modo que inventámos que eu moro cá na Terra para mais de 20 anos e por isso pareço uma pessoa humana, que o pai não sabe nada disto... e não se pode contar a ninguém! Hoje já começaram a debater qual ou quais de entre deles é também monstro do espaço e quem é pessoa, para saber se saiem ao pai ou á mãe...

E já vos contei que o meu carro tem um raio laser??? só que custa muito dinheiro e por isso só o posso usar quando for mesmo preciso???? e o botão está debaixo do volante (diz o Pipo... porque ele percebe muito de máquinas e robots)... e sabem... ele pensa que eu sou um "super-heroi"... coisa que eu afirmo que não posso confirmar porque a primeira regra de um super heroi é nunca admitir que se é um super heroi!

O meu marido diz que agora isto ainda vai, mas um dia eles vão descobrir que a mãe é um bocadinho diferente... é bem mais maluca que as outras mães!!!

ehehe

e agora vou dormir um bocadinho, até amanhã,

Sofia