outra coisa diferente do que aquela que eu penso que é...
Diz-se que o feminismo se pode dividir em 3 vagas, a 1.ª debruçou-se sobre os direitos de propriedade e herança bem como o direito ao voto, a 2.ª debruçou-se sobre os papeis da mulher, ligados á noção de igualdade entre os sexos, basicamente direitos legais. A 3.ª vaga é como uma contra-proposta ao feminismo da 2.ª vaga e os seus "erros", nomeadamente contra o facto de defender idiais de mulheres brancas de classe média...
Diz-se muita coisa, existem muitos grupos, até existe um pós-feminismo que considera que não faz sentido existir o feminismo... enfim...
Para mim, uma mulher é tão diferente de um homem como de outra mulher. Não sinto, particularmente, orgulho em ser mulher... não é relevante para mim.
Ser mulher e mãe também não me define... são papeis que desempenho (e ás vezes mal). O exercício de uma profissão (no meu caso socióloga), o estatuto social e económico também não me define. E tenho até pena que existam pessoas que confundem o que são com aquilo que fazem...
Eu sou a gaja que odeia o "Dia da Mulher", porque tenho pena que este dia exista... porque é como o dia do cãozinho, do pobrezinho, da floresta e natureza que tem de ser "salva" ou protegida...
E para chegar a este ponto: eu não trabalho, profissionalmente estou inactiva desde há 4 anos, dediquei-me á família, engravidei do 3.º puto (totalmente programado... não tenho filhos tipo "ups, surpresa!").
Gostava de trabalhar, mas nas minhas condições... já sei... agora devem estar a pensar "E dizem que não há emprego. A malta não quer é trabalhar!"
E se calhar há mais pessoas assim como eu... com 3 putos, de 7, 5 e quase 3 anos, 1 deles com T21, portanto terapias... trabalho em casa a desenvolver conhecimentos que se trazem das terapias, ginásticas, e um maridão a sair cedo e a chegar tarde... e com crianças pequenas é só cenas... basta ver pelos posts a quantidade de vezes que escrevi "não posso ir ao ginásio, o puto está doente/de férias"!
Mas, como estava aqui a escrever eu decidi, ninguém me impôs, deixar de trabalhar e dedicar-me á família. É uma opção. É a minha. Estou satisfeita com ela e não sinto que me estou a diminuir, que estou a "reduzir o meu papel de mulher á casa e á família".
Porque eu considero que o que me define, o que eu sou não está naquilo que faço. A minha identidade está cá dentro.
E hoje fui confrontada com a visão de outra pessoa sobre a minha opção de vida, sobre o que é o melhor para uma mulher. Claro que esta mulher me disse que podemos fazer tudo. Podemos ter a carreira, a família e tempo para nós.
A solução é simples. Enquanto estou a trabalhar, está uma "romena/russa/brasileira" na minha casa a fazer a limpeza, a cozinhar e até a cuidar dos putos quando eles estão doentes. E que quando chego a casa dou banho aos putos, eles brincam um bocadinho e depois meto-os na cama.
Ela é uma mulher licenciada a fazer um trabalho não qualificado, que não gosta, com um filho saudável, que divide o seu tempo entre o infantário e a casa da avó (que mora do outro lado da rua do infantário) onde faz sesta, toma banho e janta... quando vai para casa já vai "despachadinho"...
Eu sou uma mulher licenciada, que já esteve a fazer um trabalho não qualificado, que não gostava, com 3 filhos, 1 deles com T21, que dividem o seu tempo entre infantário/escola, centro de terapia da Raquel, ginástica 2 dias por semana e ás 6.ªs feiras escolhem se querem ir ao jardim, praia ou parque das bolas.
Pois é... a possibilidade de tomar café com os colegas á hora de almoço como 1 das coisas boas de se trabalhar vai fazer toda a diferença na minha vida... deixa cá ver... mas eu tenho 5 pessoas com quem habitualmente tomo café e até são muito bons amigos, assim intimos... A C. mãe de 4 que trabalha em casa e é excepcional, a P. que está reformada e é uma amiga para a vida, a E. que trabalha por turnos e com quem gosto de ir ás compras e dar umas boas gargalhadas, a M. que me inspira e é-me super dedicada e o A. que me orienta na alimentação e no exercício fisíco.
5 amigos ou n colegas de trabalho; trocar o ginásio por fazer desporto usando a WII; liberdade versus horário fixo.
E não me posso esquecer que é voltar a fazer trabalho não qualificado, mal pago e instável... porque trabalho na minha área...
Vou deitar-me a pensar nisto... NOT!
Beijinhos,
Sofia