Tenho 2 amigas que perderam uma quantidade significativa de peso.
Uma delas fez uma gastroplastia depois de dietas e dietas, comprimidos e produtos naturais. Depois de consultar vários nutricionistas e chegar a tomar até Xenical, a sua única opção foi fazer a cirurgia. Hoje está muito diferente (fisicamente) do que era há 12 anos. Casou, teve 1 filho, divorciou-se, e continua igual ao que sempre conheci. Passámos anos sem nos vermos e quando nos encontrámos foi como se nunca estivessemos estado afastadas. Eu também mudei ( e muito) mas para ela eu também continuo a mesma.
E chego a pensar que talvez não sejamos nós que mudamos mas as pessoas que mudam quando nos vêem tão diferentes fisicamente. A forma como somos tratadas mudou e trocamos até histórias, piadas e também os nossos momentos mais embaraçosos quando estavamos para mais de obesas.
A minha outra amiga perdeu 25 kg com grande esforço e dedicação e empenho no ginásio. Como eu também ela tem há muitos anos compulsão alimentar. Desde há 2 anos que não perde peso, sobe dois, desce dois mas não vê grandes mudanças. Está a viver uma situação melindrosa no seu relacionamento e procura só uma oportunidade, uma desculpa que lhe permita terminar a relação.
E estou a falar-vos delas porque são ambas pessoas excelentes, super divertidas, inteligentes e porque fizeram as 2 a mesma coisa: rasgaram todas as fotografias que tinham tirado antes de perder peso. E depois chegam a minha casa, olham para o espaço em cima do lavatório na casa de banho e tenho uma fotografia minha de quando pesava 84 kg. Vão ao closet e uma fotografia igual, mas maior, está colada no meu espelho de corpo inteiro. E por fim vão á cozinha e lá estou eu com 84 kg bem na porta do frigorifico.
E depois perguntam-me porquê???? A minha resposta é esta: aquela sou eu, sempre fui eu, tenho de respeitar aquela fase na minha vida. Não posso apagar os anos que passei com excesso de peso e obesa, partilhei a minha vida com tanta gente, negar aquela pessoa é negar também por quanto passei, tudo o que sofri e tudo o que me fez feliz. Tive sorte, o meu marido sempre me amou e apreciou apesar de ser obesa. O amor e a paixão não diminuiram e não sinto que hoje me ame ou deseje mais que antes. É igual... eu sou igual, ele está igual, somos os mesmos. A nossa relação não mudou.
Vejo que a mudança é nos olhos de quem me vê. Eu sou a mesma, mas sinto que sou tratada de forma diferente. E custa ouvir... pensam que não? Custa ouvir quando temos 70 kg que já estamos bem (quando ainda somos obesas... porque eu só deixei de ser obesa para ter excesso de peso quando cheguei aos 64 kg); custa ouvir que de certeza que passamos fome, que vamos demasiadas vezes ao ginásio, que estamos obcecadas em perder peso e vamos ficar para lá de feias com imensas rugas na cara quando não temos ainda uma única que não seja de riso... custa ouvir coisas que não são sinceras, que não são verdadeiras e fingir que não se percebe...
Beijinhos,
Sofia