Um dia Deus (e a Internet) colocou o maridão no meu caminho e acho que ele é a maior graça que Ele me concedeu. Quando falo nele não posso deixar de referir a minha sogra que educou o filho transmitindo-lhe os valores que eu espero transmitir aos meus filhos: o respeito por si mesmos e pelos outros, força de carácter e generosidade.
Quando falo nele costumo dizer que ele é "a minha pessoa". Melhor amigo, confidente e o rochedo forte e inabalável.
E um dia apareceu outra pessoa. A minha amiga Mónica, a minha fashion adviser, uma pessoa cheia de carácter, séria e integra. Hoje ela foi morar para a Holanda. O marido foi contratado por uma empresa internacional, com sede na Holanda e lá foram eles... conto vê-la no Natal e está prometido que irei em Abril passar um fim de semana. Já comecei a pesquisar voos, o Hugo já me começou a falar sobre o país e os Holandeses (no ano passado um dos seus amigos também foi para lá trabalhar) e sinto aqui um nó, aqui uma dor.
Hoje quando cheguei a Lisboa, desliguei o motor, com a Raquel a dormir (os meus filhos dormem sempre nas viagens) chorei um pouco, em silêncio. Uma pessoa passa quase 40 anos para encontrar uma pessoa que possa partilhar uma amizade verdadeira e depois, puf, puf...
Além do Hugo e dos meus filhos, que amo de morte nunca disse amo-te a mais alguém. Na segunda feira, depois do nosso jantar, um abraço apertado sai-me um "amo-te" inesperado. De mim ela diz que fui a pessoa que no último ano mais a ajudou nas situações complicadas que passou, o fim de um negócio, o emprego d marido que o levava a estar fora do país 2 semanas por mês. Sou o seu exemplo de mulher, a minha fã n.º1, a pessoa que mais influenciou porque a minha história de vida, a minha forma de estar na vida e os valores que considero sagrados, a família, a honra, a verdade e sinceridade a levaram a avaliar a sua vida e a ter uma visão de si e dos outros mais realista e verificar que tudo o que a podia fazer feliz ela já tem.
Acho que devemos sempre dar graças pelo que temos. A saúde, nossa e de quem amamos, a segurança do amor do nosso marido, a aceitação de quem somos, por nós próprios é a única coisa que é necessária para a felicidade. Como a vida acontece enquanto fazemos planos, o mesmo acontece com a felicidade, todos perseguem a felicidade e não percebem que ela já existe dentro de nós, que vivemos, respiramos em liberdade e isso significa que a felicidade já a estamos a viver.
É que a dor é inevitável mas a felicidade é uma escolha, é um sentimento que podemos abraçar e escolher viver. Passei muitos anos ressentida, com raiva, ódio e isso só me tornou uma pessoa amarga e triste. E de repente, ou não tão de repente, percebi que o passado não podia continuar a viver no meu presente e muito menos condicionar o meu futuro.
Todos os dias de manhã é altura de decidir se vamos ser felizes. Há, por mais difícil que esteja a ser a nossa vida, pelo menos 1 coisa que nos enche o coração, pela qual estamos gratos, que nos faz sorrir. Concentrarmo-nos nisso e transpor para mais áreas da nossa vida nao me parece impossível. passo a passo, coisas, problemas que não nos parecem poder resolver diminuem de tamanho. Ou no pior dos casos, se uma situação não muda somos nós que temos de mudar. A trissomia 21 com que nasceu a Raquel foi a prova mais difícil que tive de enfrentar... mas eu consegui mudar a minha dor, raiva e sentido de injustiça, e começar a ver a Raquel como uma bébé, como uma criança, uma menina, linda.
Não consigo imaginá-la de outra forma, gostava de a ver desenvolver mais depressa; gostava que tivesse maior capacidade linguística, mas a sua essência não. Ninguém me dá os abraços que ela me dá quando estou triste. A sua capacidade de me confortar não tem igual.
Estou triste, mas vivo em felicidade. parece um contra-senso, mas não é...
beijinhos,
Sofia