Sexta-feira, 04.05.12

Pois é... a escola acaba dia 15 de junho... A Raquel precisa encontrar um ATL que a aceite. O Pipo acaba a 20 de Julho e o Joãozinho a 9 de Julho. Com esta discrepância de datas andei a pensar no que fazer com a Raquel. Pensei e pensei e fui ter á CAF da escola dela que é gerida pela associação de pais. A ideia era a Raquel ir para lá até dia 9 de julho e nessa data dar por terminada a época escolar de todos (mesmo o Pipo que só terminaria a 20 de julho).

 

Esperei e quase desesperei pelo telefonema... demorou 1 semana. E quando telefonaram era logo "Reunião, hoje, de preferência dentro de 1 hora"...

 

Consegui uma reunião perto das 5h da tarde (ia buscar as crianças ás 5h30m). E comecei logo a pensar nos cenários possíveis. Era obvio que a aceitação da Raquel ia envolver grande diplomacia da minha parte. E estava determinada a fazer algo se a resposta fosse negativa. A primeira coisa, que assusta logo quem está numa posição de serviço da comunidade, é pedir uma resposta por escrito! Ficam borradinhos de medo...

 

Felismente se há coisa que percebo é de pessoas. Sou licenciada em sociologia, mas confesso o meu fascínio pela psicologia. Adoro a dedução lógica de maneirismos, situar as pessoas nos seus contextos de origem, descobrir as coisas que os afectam. Afinal de contas 2 características da minha personalidade são a assertividade e a manipulação (sim, já fiz testes de determinação de personalidade e nem imaginam os resultados, as verdades que vêem ao de cima).

 

Nesta reunião esteve presente uma funcionária que fica com as crianças, mas que tem a cargo muitas outras funções (transporte, pagamentos, planeamento de actividades, atendimento de pais e outras coisinhas que fui percebendo na reunião) e o presidente... o que pretendiam determinar era o grau de incapacidade da Raquel, que tipo de relação poderiam ter com ela e se tinham eles próprios capacidade de resposta para uma criança com deficit cognitivo. Mas eles já têm crianças com deficit cognitivo a frequentar o espaço! Mas não têm a aparência associada a deficiência. 

 

Por certo, alguns de vocês pelo menos, já passaram por isto, quem tem filhos está mais propenso a isto: vêem uma criança com paralisia cerebral e ouvem alguém dizer: "mas que pena, foi no parto, ele é tão perfeitinho!"

 

Mas quem nasce com a deficiência estampada na cara passa logo a ser um ser inferior, nasceu assim, cresceu assim na barriga da mãe, já veio assim.

 

Pode parecer brutal esta minha análise mas a Raquelinha já nasceu há quase 8 anos e já me deparei com mil e um pessoas com as mais diversas "teorias" sobre graus de "trissomia 21" (não existem graus... o que existe é, como em todas as crianças ditas "normais", crianças que respondem melhor ou pior aos estímulos. Se uma criança "perfeitinha" crescer na selva vai "falar" muito pior que uma criança com Trissomia 21...). 

 

A ignorância continua a chocar-me um pouco! E lá vou eu explicar o que é a Trissomia 21, e explicar como ocorre a trissomia 21, e que existem 3 tipos de trissomia 21, e que ainda existem outras trissomias, noutros cromossomas.

 

Mas consegui... aparentemente consegui... fiz uma pré-inscrição e vou aguardar resposta para o final do mês.

 

Não sei o que pensam estas pessoas... se há 30 anos que as crianças com deficit cognitivo estão integradas no estudo integrado e não segregado, em escolas só para portadores de deficiência, como foi uma situação comum quando eu era miúda! lembro-me de ir para uma escola, uma escola no Viso em Setúbal e pelo caminho até lá, passar por uma dessas escolas, da APPACDM, com ensino para crianças deficientes.

 

Quem diria que tantos anos depois iria ter uma filha diferente?

 

Hoje, as crianças diferentes vão para as creches, infantários e escolas... se houver possibilidade por parte dos pais e aceitação das entidades, um criança com trissomia pode fazer ginástica, natação, tocar um instrumento, ser cinturão negro, como qualquer outra criança.

 

A minha menina fez natação, ginástica e ballet e se Deus me der força para continuar esta luta (porque é uma luta constante contra o preconceito, a descriminação e a identificação da minha filha como "coitadinha") a Raquel ainda irá fazer muitas mais coisas.

 

Vai fazer tanto como os irmãos! Quer dizer... vai fazer tanto como eles... quando eles conseguirem fazer mais do que ela faz!

 

Ela pode não saber falar muito bem, não tem grande motricidade fina e é meio destrambelhada a correr e a jogar á bola, mas é mais educada que os irmãos (diz sempre obrigada), é mais prestável, tem um coração maior, perdoa com mais facilidade, pede desculpa de verdade, dá abraços no momento certo (pressente sempre quando eu não estou bem), põe melhor a mesa, come melhor á mesa, é mais despachada que eles...

 

Esta menina dá muitas vezes 5 a 0 aos irmãos! Podem ser muito diferentes mas nos seus momentos de diversão não se diferenciam, quem tem trissomia e quem não tem, e no nosso coração são sempre iguais.

 

    

 

 

Beijinhos,

Sofia 

 

 

 

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