Durante muitos anos escondi, de todos e até de mim mesma, o gosto que tenho por coisas bonitas. Comprei malas práticas, sapatos sensatos de salto baixo, "adequados" á minha condição de mãe com filhos pequenos, não usei mais batom, andei sempre de cabelo atado em rabo de cavalo. A minha mãe esteve anos a dizer-me que os meus pijamas eram uma vergonha... mas como me serviam... e a roupa interior??? Com menos 20 quilos foi mesmo necessário comprar cuecas e sutiãns novos e deixar de vez de usar sutiãn de amamentação. E nessa altura a minha mãe começou a deitar a minhas cuecas mais velhas no lixo (suspeito eu... porque é isso ou anda alguém a roubá-las. Pois... não me parece isso. É a minha mãe). Até eu já comecei a deitar roupa para o lixo... hoje foram umas calças pretas de malha... que velhas... tinham mais de 10 anos e estavam já todas rotas na parte interior das pernas. Uma vergonha!
Durante anos, muitos anos, não me permiti gastar dinheiro comigo mesma, porque sentia que não merecia.
E isso leva-me a falar sobre a 2.ª parte do desafio da Big Curves. Uma das tarefas deste fim de semana era de arranjar um bloco, umas folhas, qualquer coisa, para descrever o que sentíamos, o que comiamos, desenhos... coisas, pensamentos, sentimentos.
Em Agosto de 2010, comprei este bloco... reparem que é bem feio... mas era o maior e mais barato que havia na Fnac.
Nele coloquei a minha tabela de peso, a descer e outras vezes infelizmente a subir, com referência ao meu Imc, e colocava uma marca de cada vez que vencia os desafios de perda de peso da WII FIT. Coloquei o que comia, desenhos e pensamentos. Se repararem bem está muito FEIO. É feito de forma muito crua, sem preocupação nenhuma com organização ou sentido estético.
Mas também podem ver a sombra dos meus dedos. Que fotos tão más...
Passou-se um ano, o peso desceu e a auto-estima aumentou. Quando fui comprar um novo bloco, aquilo que chamo o meu diário alimentar e de exercício, mas que na realidade é bem mais que isso. É o sitio onde me dá para soltar uns belos palavrões e escrever umas palavras bem duras que nem aqui teria a coragem de escrever. Diz-se muitas vezes que se estamos chateados com alguém devemos escrever-lhe uma carta e guardá-la e não enviar. Assim é o meu caderninho. Na altura em que o meu 1.º caderno estava a ficar com poucas folhas livres, voltei á fnac e escolhi sem olhar a preço, algo que me cativou e prendeu o olhar. A capa é desenhada pela Rebecca Dautremer, e retrata Alice no país da maravilhas, que esta designer ilustrou brilhantemente em livro.
Curiosamente, no natal o meu cunhado, que não só é o melhor fotografo que conheço mas designer gráfico (muito, muito bom, aliás excelente) ofereceu á minha filha um livro com ilustrações desta designer. Tenho bom gosto...
Esta é a imagem que se pode encontrar na net do meu caderninho e do livro que o meu cunhado ofereceu á Raquelinha.
O caderninho que comprei na fnac tem uma fita que marca a nossa página, é pautado e tem 2 fitas para fechar com um laço. É lindo...
A foto não é grande coisa... mas é a minha.
Iniciei-o no dia 28 de Julho. Escrevi umas 3 páginas de contextualização! Junto aqui a primeira página do meu caderninho, do meu diário e outra de um dia muito especial. Foi um dia em que fizemos uma festa surpresa a uma amiga que ia 2 dias a seguir adoptar um menino de 4 anos e que estava nos Açores. Teve de ir sózinha... e tem medo de voar... correu tudo bem. O menino é um amor. Adaptou-se lindamente e quase que perdeu o sotaque de São Miguel, que tanto me fazia lembrar uma das minhas melhores amigas, com quem vivi 6 anos e que há 7 anos foi morar definitivamente para São Miguel. Saudades...
Todos os dias, com algumas excepções, geralmente em momentos de compulsão desenfreada deixo mesmo de escrever, escrevo a data, o peso, alimentação, exercicio que fiz, seja aula ou cardio (aí anoto tudo, máquina, minutos, desempenho, vitórias...) e o peso com que me deito. Ás vezes até escrevo "Aposta para amanha XX,X kg".
E queixas, e vitórias e os dias bons, os maus. Escrevo sobre as coisa, os sentimentos, os meus pensamentos. Aí posso, finalmente, ser totalmente sincera. É uma sensação libertadora ter onde sejamos totalmente honestas. Ali não há represálias... não há comentários que me mandam para lugares escuros e me põem em contacto com o meu Dark Passenger. E se quizer até escrevo a vermelho, rosa, amarelo, verde, azul e preto!
É o meu espaço.
beijinhos,
até á próxima,
Sofia